Comigo é assim: Pergunta idiota, tolerância zero! Este era o bordão do personagem Saraiva, do Zorra Total, quando o programa humorístico ainda conseguia arrebatar gargalhadas do público. Mas não raro encontramos em nossas vidas um saraiva aqui outro acolá. Quando esse tipo de intolerância, nervosismo, falta de paciência, ou até falta de educação, como queiram chamar, acontece em determinados estágios da vida, como na TPM, na gravidez, ou em um dia em que tudo deu errado, dá para aturar. Mas quando essa forma de agir torna-se corriqueira e permanente, é difícil suportar os saraivas. A melhor forma de conviver com eles é vê-los como comediantes, assim como o Saraiva interpretado pelo ator Francisco Milani.
Mas cada um tem um saraiva dentro de si. A diferença está em externar ou não as saraivadas. Se formos analisar o nosso cotidiano, perceberemos que não raro ouvimos perguntas óbvias, mas que fazem parte da praxe. Um dia fui levar o notebook para arrumar, e chegando lá o técnico perguntou: -Está estragado? Por um momento viajei pela mente do Saraiva e imaginei a resposta dele. – Não, ele estava cansado de ficar lá em casa e eu o trouxe para passear na sua oficina. Mas respondi educadamente: -Sim, já tem alguns dias que ele desliga de repente.
Outro dia estava limpando a casa, quando de repente chega uma visinha e pergunta: - Você está limpando a casa? Passou pela minha mente responder-lhe que estava preparando o café da manhã. Mas como não estava grávida, nem de TPM, nem tinha tido um dia ruim, respondi amigavelmente: -Estou arrumando a casa. São perguntas óbvias, mas às vezes são ditas apenas para puxar uma conversa, como acontece muitas vezes quando se chega ao ponto de ônibus e alguém comenta: - Está calor hoje, não é? É óbvio que está calor, pois todos estão vendo o sol rachar de quente.
Assim acontece todos os dias. As pessoas fazem as perguntas “idiotas” e ficamos tentados a responder como o Saraiva. Para passar a vontade, eu uso a técnica de responder mentalmente como ele responderia.
Se me perguntam: Acordou? Penso: Não, sou sonâmbula.
Se perguntam: Tomou banho? Penso: Não, eu me molhei lavando louças.
Se perguntam: Vai sair nessa chuva? Penso: - Não, vou sair na chuva de amanhã.
Se perguntam batendo à porta do banheiro: -Tem gente? Essa é a única pergunta que eu ultrapasso a barreira do pensamento e respondo saraivamente: - Não.
Lídia Cunha
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